É sempre uma incógnita quando uma mulher anuncia que vai reduzir o consumo de carne. Há alguma probabilidade que inicie 'o caminho' que começa pela vaca e acaba a eliminar os frutos do mar encaixando-se na definição de vegetariano ortodoxo - ou seja o que não come cadáveres de animais, seja por uma questão de saúde, longevidade, seja para poupar o stresse de morte uma horrorosa aos camarões de Espinho. Sendo que a determinado momento o objectivo começa a ser atingir o 'nirvana vegan', em que não se toca em nenhum derivado animal, do leite aos ovos, e os 'carnívoros' são olhados com nojo. O que afecta os outros prazeres da carne, quero crer.
E então, meu amigo, conte com discussões em redor da folha de alface com seitan ao jantar. Não tardará e a carne vermelha torna-se o centro da sua existência: é a sua religião afinal. Ora se estiver disposto a ser convertido, a harmonia reinará nesse lar herbívoro.
Basta entrar em fóruns internacionais para se compreender que a questão dos relacionamentos amorosos entre vegetarianos e 'comedores de carne' é uma temática que já tem uma base substantiva de divórcios que permite conselhos atempados. Aliás a discussão é colocada ao nível da fé inter-religiosa. E os vossos filhos? Irão comer cadáver? Uma das partes está disposta a ceder? Diz uma activista vegan radical: "Então é uma questão do vosso parceiro respeitar as vossas opções? Mas vocês namorariam um violador? Um alegre espancador de cães? A lógica é a mesma: desde que ele não vos obrigue a fazer o mesmo, certo?".
Há mesmo conselheiros vegans a apoiar o fim da relação com não-praticantes: muito bem amam-se, querem casar mas se ele é intransigente quanto ao dar carne aos vossos futuros filhos, não respeitando a sua opção vegetariana (o contrário não é tido) então o vosso matrimónio está condenado ao falhanço porque não conseguirá lidar com a ideia de ver as suas crianças a comer carne de animais mortos. Pode até ser verdade. mas custa pensar que um peito de frango acabe assim prematuramente com um grande amor - chamem-me romântico...
Este tema não surge do ar, dado que apontam agora a produção de carne para consumo humano como o principal culpado das alterações climáticas. Leu bem. Nem os escapes dos carros nem os gases dos frigoríficos ou as fábricas dos chineses estão a destruir as calotes polares. Sim: os flatos dos porcos, borregos, camelos e vacas, e respectivo estrume.
Para os vegans a equação é simples: basta reduzir (eliminar) a produção animal industrial e dá-se um passo para a diminuição do efeito de estufa - a Cimeira de Copenhaga devia contemplar este aspecto. Bom, não sei quantos planetas de tofu e alface serão necessários para alimentar a população mundial escanzelada e desproteinizada sem que esta atacasse as manadas de vacas dondocas a passear livres nos prados de rúcula.
Mas se não encontro solução sentimental para a vida de um casal misto com filhos esquizóides no credo da febra ou da salada, permitam-me uma ideia para a questão do metano animal. Em vez de acabar drasticamente com espécies inteiras em prol do clima - um ideal nobre e necessário - não é possível introduzir nas rações do gado uma substância antiflatulência, que anule o aerofagismo e meteorismo dos quadrúpedes em vez de acabar radicalmente com a vazia, picanha, salsicha ou cupim? É só uma proposta.