quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Portas ao poder, abaixo Portas


Para mim, o melhor político do Governo é Paulo Portas. O melhor político da oposição, também. No entanto, se eu mandasse, punha Paulo Portas no poder, por troca com Paulo Portas. Mesmo assim, os portugueses que votaram nos partidos do Governo e os que votaram nos partidos da oposição estão igualmente bem representados, pelo que é difícil compreender o clima de contestação. Custa, sobretudo, assistir à impaciência com que o povo trata o Governo. A medida da redução da TSU foi criticada pelo Bloco, pelo PCP, pelo PS, pelo CDS e por várias pessoas do PSD, o que faz desta a maioria absoluta mais minoritária de sempre. Só corações de pedra não se condoem com a vida difícil do primeiro-ministro.
Assim que Passos Coelho chegou ao Governo, a vida começou a ficar mais difícil para nós, é certo, mas também para ele. Foi para São Bento convencido de que ia cortar as gorduras do Estado e, mal tomou posse, constatou que o Estado, afinal, era só chicha. Era um falso gordo, que parecia anafado visto da oposição, mas atlético quando visto de perto. Nem uma tira de gordura para aparar. O primeiro-ministro viu-se forçado a cortar no lombo, o que provocou uma mágoa moderada às pessoas e uma mágoa intensa à sua página de Facebook. Cortar nas PPP era inadmissível, porque o Estado assumiu o compromisso de as pagar. Felizmente, cortar nos salários era possível, porque pagar aos seus assalariados não é um compromisso, é um compromissinho.
Paulo Portas, sendo o melhor político do Governo, é um aliado importante de Passos Coelho, e acabou de evitar uma crise política ao não bloquear a medida da TSU, apesar de discordar dela. Infelizmente, como também é o melhor político da oposição, é um adversário temível de Passos Coelho, e acabou de criar uma crise política quando se gabou de não ter bloqueado a medida da TSU apenas para não criar uma crise política. Portas é dos poucos políticos do mundo com habilidade suficiente para criar uma crise enquanto se gaba de a ter evitado.
Por isso, o principal aliado de Passos Coelho acaba por ser António José Seguro. Nos comícios, Guterres entrava em palco ao som de uma música do filme 1492. Sócrates entrava ao som de uma música do filme Gladiador. A minha proposta é que Seguro entre em palco ao som do apito da mira técnica. Aquele silvo contínuo que a televisão transmite quando a programação ainda não começou. Mesmo assim, receio que seja demasiado excitante.
Como disse Paulo Portas numa altura em que fazia parte do Governo, não há alternativa credível a esta coligação. É verdade, mas não é justo. É injusto que a alternativa a um Governo que não é credível tenha de ser credível. Não deveríamos precisar de alguém credível para substituir, digamos, Miguel Relvas. Deveria bastar alguém.


Ler mais: http://visao.sapo.pt/portas-ao-poder-abaixo-portas=f688242#ixzz28zZIvBRP
Related Posts with Thumbnails