Situação complexa: como escolher o modelo adequado para diferentes ocasiões?
Acompanhei com perplexidade a polémica da eventual distribuição de preservativos nas escolas. Ouvi com atenção os argumentos indignados dos pais que falam "daquilo" como se tratasse de um artefacto erótico com características afrodisíacas cuja simples visão leva ao deboche. Ao que sei, trata-se somente de uma maneira eficaz de plastificar o penduricalho masculino, de modo a evitar gravidezes e doenças sexualmente transmissíveis, ficando-lhe muitas vezes reservada a mera função de êmbolo estanque.
O que mais se destacou foi o desdém da geração pós-30 em relação ao preservativo, como se fosse "coisa para malta jovem" e já não lhes dissesse respeito, e pertencesse ao passado. Tendo em conta a taxa de divórcio em Portugal e o elevadíssimo índice de gabarolice reinante - que faz parecer que toda a gente anda a trair-se numa imensa suruba nacional para que não sou convidado - convinha que houvesse algum conhecimento sobre o uso do preservativo. E, ao que parece, não há. Raramente se vêem pessoas a comprar nos supermercados e quando alguém o faz ainda olham, sim olham, como quem topa tudo "ah, este vai dar uma, e não é com a 'legítima' porque senão para quê os preservativos?" E há os ignorantes: os denominados recém-separados.
Um divorciado é muitas vezes um franguinho vivo deitado na floresta escura. "Estive muitos anos casado e agora não sei o que fazer... que tipo de preservativos é que compro?", perguntam-me como se fosse algum manual vivo de tamanhos de pirilau e saberes orgásmicos. A situação é a seguinte: na última década, como em todos os sectores de consumo, o preservativo explodiu numa multitude segmentada e não é o amigo solteirão que o vai desenrascar. Há certas coisas que terá de ser o próprio a resolver. Esta é uma delas. Mas há umas dicas genéricas que se podem avançar.
A primeira e mais evidente é a de que não parece adequado começar com palhaçadas de fluorescentes, sabores e texturas pontiagudas. O que é que você vai querer dizer de si quando se apresentar pelado e com isso enfiado? Um primo do Batatoon? Um ambientador de pêssego? O carrasco do último auto-de-fé? O objectivo é não se lembrar sufocantemente que o preservativo está lá em baixo. Nem que "ele" agora se transformou num néon luminoso de sabor a menta. Manter a dignidade é sempre uma boa estratégia.
No momento da compra tem que saber ao que vai e o que tem. É uma decisão complexa, pois o preservativo é algo elaborado cientificamente para diversos usos e objectivos, com diferentes resistências, efeitos "retardantes", "contacto total" de "sensação extra", "extra large", "sensação calor" ou "benzocaína para prolongar"... e estou a falar dos que se vendem nas farmácias, junto a umas caixinhas para brincadeirinhas da mesma marca, ali ao lado dos batons para a praia.
Mas vamos aos "factos da vida". O ideal seria comprar uma gama de preservativos diferentes, ir calmamente para casa, abrir um bom vinho, vestir o roupão à Hefner, arranjar um qualquer estímulo visual que o erice e preparar-se para perder algum tempo a testar o material tendo em conta a sua morfologia, as suas capacidades, a gestão da eventual ansiedade, e a sua desenvoltura em desenrolar eficazmente o látex...Tem a sua arte. E lembrar-se que há um 'momento-choque' em que vai ter que quebrar a fluidez da sua coreografia para fazer saltar magicamente a borrachita e não quererá deixar nas mãos do improviso para quando está nervoso e atrapalhado. Este é pois um conselho sensato. Teste os preservativos. Ganhe autoconfiança. É o que serve melhor os seus interesses. Dê-lhe uns piparotes, bamboleie-se. Não há como captar o modo de funcionamento no recato para depois não cair no ridículo e o ridículo fazê-lo cair numa qualquer situação indesejada.
Texto de Luis Pedro Nunes